segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Crianças: limites ou horizontes? por Danilo Gandin




Quando hoje, se debate a escola, muito se fala em limites e em punição. Livros e artigos são gastos em grande quantidade para estimular pais e educadores a dar limites a filhos e a alunos e a puni-los se infringirem uma regra.

Esta volúpia pelos limites sempre acontece quando a sociedade ou algum de seus setores entra em crise. A crise é aquele momento em que, como diz Walter Benjamin, a hierarquia de valores existente já não dá conta das questões que surgem e a nova hierarquia que está se formando não mostrou ainda seus resultados. É um tempo de busca de novos rumos. Mas é, também, um tempo em que parte grande das pessoas se agarra, como forma de buscar segurança, à manutenção das regras que supostamente trouxeram bons resultados em outra época. É como se tivesse havido um naufrágio e, enquanto algumas pessoas nadam rumo a um novo navio que se vislumbra por entre a névoa, outras se agarram fortemente a uns pedaços do navio antigo que vão e vêm no balanço das ondas.

Na crise, as pessoas se tornam agressivas. A última grande crise da humanidade, afora esta de agora, aconteceu ao final da Idade Média. Houve um momento – veio aos poucos e foi muito longo – em que os ânimos se exaltaram e as pessoas se dividiram entre as que apontavam para o novo barco e as que queriam manter-se sobre os destroços do anterior. Os que detinham o poder tentaram, até com violência extrema, manter o status quo, mas a renovação foi feita porque ela tinha uma força intrínseca inabalável.

Hoje, a escola – só estou falando de educação básica – está em crise. Do ponto de vista dos resultados que aparecem nas avaliações periódicas, é muito difícil defendê-la; enquanto processo, “passa” um conteúdo muito formalizado e restrito, utiliza como metodologia fundamental a fala do professor, é mais autoritária do que a sociedade em geral, reprova os alunos, desdobra-se em séries e em disciplinas... Construir um conteúdo que seja uma vivência de valores, um desenvolvimento de habilidades e um acréscimo de conhecimentos gerais sobre a natureza e sobre a sociedade é nadar rumo a um novo navio que precisa ser construído na instabilidade; firmar-se no já vivido, na reprodução conservadora da sociedade existente, é agarrar-se às tábuas soltas de um navio já naufragado.

Querer limites é lutar pela volta ao que já se fez, ao que já se viveu, ao que se pensa que deu certo, embora se saibam os resultados da desigualdade social e os resultados pobres no saber e na aprendizagem. Abrir horizontes para crianças e adolescentes é crer na capacidade humana de construir e de construir-se. De fato, crianças e adolescentes necessitam, para crescer, além de ser amados, conviver com adultos que saibam o que querem e para onde estão indo. À escola cabe fundamentar e tornar éticos os primeiros horizontes da ciência, da política, da fé, da linguagem, enfim de toda a cultura.

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